Impressiona o número de idéias que rondam a cabeça de quem escreve. Se o texto não estiver pré-determinado, todo coeso, arrrumado, elas ficam lá, a deriva, esperando o resgate que nunca chegará. São muitas vidas e poucos, ou nenhum, bote.
Sério, se você tiver um filho, não deixe que ele escreva. Escrever é uma maldição que não se deve desejar ao seu pior inimigo, sob o risco de pagar o dobro, o triplo. Desejar que alguém escreva é ver suas idéias aumentarem a números que a matemática desconhece e que a literatura esconde. Perde-se todo o foco graças a maré de palavras que a mesa ao lado, a do fundo, até aquela do canto mais longínquo, solta.
É como uma vingança maligna e perfeita. Pena que infligida contra você. Suícidio com piano, bigorna, forca no pescoço e calibre .12. Rola até uma cicuta antes, só para garantir.
Estranho que ao mesmo tempo é ótimo. Dá uma liberdade única, uma sensação de fazer parte de um seleto grupo de pessoas que transpuseram a barreira entre o cérebro, a alma e o papel. A caneta vira uma extensão do seu corpo. Sim, ela vira algo próximo do seu pau, sendo o papel aquela mulher dos seus sonhos. A folha abre, as pernas abrem, e daqui a pouco lá está você, extasiado. Uma palavra, duas palavras, sete frases sem tirar. Não é à toa que texto tem clímax e você há de chegar lá.
Problema é que elas são caprichosas e um dia você não vai mais conseguir. Aí será qualquer texto, bloqueio literário, coito interrompido. E para a escrita não há punheta que salve, água fria que resolva, bebida que entorpeça.
Daí, nesse dia, você escreve uma merda dessas.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Texto de boteco número 4017
Postado por Júlio César às 04:08
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