segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O bar carioca de Sampa é melhor

"São cinco quilos de camarão. Então eles espremem estes cinco, eu disse cinco, quilos de camarão dentro de um pastel". Após essa descrição, não tinha como eu não ficar com lombrigas só de pensar no Belmonte. Afinal de contas eu creio, e acho que posso até provar isso, que o homem só evoluiu quando fritou o primeiro camarão. Se bem que o bicho é bom até cru, logo minha teoria tem algumas partes infundadas. Grande novidade.

Dizem que aqui há um Belmonte para cada meio carioca. O nativo nasce e já tem a "cadeirinha do bebê" em cada filial do bar espalhada pela cidade. Trata-se de um boteco como outro qualquer. Em São Paulo existem Belmontes aos borbotões, a maioria mais charmosos. É uma espécie de Pirajá sem o bolinho de carne seca, sem o chopp maravilhoso (cariocas bebem água com cevada, é fato). Mas tem pastéis e empadas de camarão, e isso redime o Belmonte, e conseqüentemente seus donos, de qualquer pecado.

Não bastasse a quantidade, a massa lembra os clássicos pastéis de feira paulistanos. E a empada é um achado: faz-se a massa de empada no fundo, como uma espécie de base, e dentro dela temos catupiry e camarão, transformando a receita em uma espécie de muffin do Monte Olimpo.

O atendimento é carioca, portanto não espere muita coisa. As opções são infinitas, então não seja turista como eu se atendo apenas ao camarão. Temos a "empada muffin" de siri e de bacalhau, que só um olhar remete ao pensamento "é pena que este chopp seja uma merda". Ainda temos o pastel de palmito, onde "são cinco quilos de palmito. Então eles espremem este cinco, eu disse cinco, quilos de palmito dentro de um pastel". Quando vier ao Rio, esqueça o Cristo. Uma das sete novas maravilhas do mundo fica na Rua Bolívar.

Serviço:
Endereço: Rua Bolívar, esquina com a Domingos Figueiredo, perto do Bob's onde Zander Catta-Preta foi visto tomando um milk shake.
Capacidade: duas pessoas em dia de calor. Mais do que isso vira o Inferno.
Serviço: uma merda.
Chopp: uma merda.
Petiscos: O Paraíso existe e tem formato de pastel e empada.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O dia em que a presidente da Argentina deu o calote

Ontem estava almoçando aqui no Villa-Lobos. Tinha comido alguns cogumelos, confesso, mas acho que nunca teria uma alucinação tal qual a história que eu vou contar agora. Mesmo porque se fosse para pensar na presidente da Argentina, eu ia imaginá-la de outra forma (opa, eu pego!).

Enfim, estava lá no horário de almoço, batendo aquela pratada de peão. Eis que de repente rola um anúncio sonoro no shopping. E que anúncio:

- Senhora Cristina Kirchner, favor comparecer à loja M. Martan!

Dei aquela engasgada com a salada e apurei os ouvidos. Olhei para o copo e lembrei que era meio-dia de uma quinta, logo não estava tomando cerveja. Ok, tinha tomado umas na quarta à noite, porém lembrem-se que eu vivo mais no estado alcoólico do que no Estado de São Paulo. Esperei o grande momento do replay e ele veio:

- Senhora Cristina Kirchner, favor comparecer à loja M. Martan!

Porras, pensei. Ninguém esboça nenhuma reação. O cara falou duas vezes o nome da mulher que manda nos hermanos, a mulher que é casada com o caso de estrabismo mais bizarro de toda a humanidade e todo mundo continua comendo como se aquilo não fosse nada? E porras, será que ela deu calote na M. Martan? O Kirchner, quando no início do seu governo, deu um cambau no FMI, mandando os caras pentearem brasileiros. Agora ela foi lá na M. Martan e disse que não ia pagar porra nenhuma?

Desisti desse povo que não vive sem o Google e decidi voltar ao escritório. Em frente ao Burguer King, outras vez a voz do além anunciou:

- Senhora Cristina Kirchner, favor comparecer à loja M. Martan!

Ou eu tenho um amigo imaginário no sistema de som do shopping Villa-Lobos ou a presidente estava lá. E eu nem fui conferir se ela é gostosona de perto, dam it!

PS: O cara, no caso este que vos escreve, chega para trabalhar com três gibis, uma camiseta do Star Wars e Richard Cheese cantando star Wars Cantina no Ipobre. Um cara desses não merece morrer?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Corinthians minha vida

Ontem eu acordei desnorteado. Tinha dormido pouco e isso não foi resultado da tequila do dia anterior. Nem de ressaca eu acordei, e olha que foram algumas doses cavalares.

Não tinha, porém, acordado preocupado. Nesses 17 anos acompanhando o Corinthians com fidelidade religiosa, já vi o Timão sair de situações parecidas. Em 97, por exemplo, nos safamos nas duas últimas rodadas, vencendo Goiás e Flamengo. A base daquele time seria campeão brasileiro nos dois anos seguintes, mas o ano de 1997 (eita número desgraçado esse!) estava lá, marcado na nossa história. Achei que depois daquilo, o Corinthians nunca mais teria um time tão feio quanto aquele, mas esse time veio.

Em 2006 também passamos por poucas e boas com o Coringão. Depois de sermos campeões em 2005, em um campeonato para lá de contestado, vimos o rebaixamento assombrar o Timão, mas não tal qual vimos neste ano. É costume do corinthiano, sofrer até a última gota de suor e lágrima. Nós temos a sina que segue clubes como o Botafogo, a de que tudo que ganhamos tem de ser com uma dor que trará um prazer maior ainda, onde o peso de um título é o mesmo que o de escapar do rebaixamento. Nesses 17 anos eu sofri com derrotas dolorosas para o Palmeiras, sofri com um tabu contra o São Paulo, sofri quando ganhamos o Mundial de Clubes - o penâlti perdido pelo Marcelinho quase arranca o coração deste que vos escreve. Sofri quando perdemos o primeiro jogo para o Atlético Mineiro em 1999, sofri até sei lá, os trinta minutos, quando o Edilson furou a zaga estilo Fort Knox do Cruzeiro e tocou a bola para o fundo da rede depois de passar pela muralha chamada Dida. Sofri até com o título do Brasileiro de 2005, quando os motivos para comemorar eram poucos e nebulosos. Na vitória e na derrota nós gritamos forte.

Mas ontem foi muito mais difícil. Porque não era só cair por conta do time ser ruim. Se as coisas estivessem normais no Corinthians, eu hoje pediria que jogadores como Gustavo Nery, Hiran, Heverton com H, Clodoaldo, Fábio Ferreira, Bruno Octávio (famoso como "o jogador de condomínio), enfim, a maior parte do escrete corinthiano, fossem esfolados e deixados ao sol na Marginal Pinheiros, à espera dos urubus, capivaras, poluição, enfim, toda a sorte de desgraças que podem se abater a quem passe a menos de 5 km pela Marginal. Foi mais difícil porque a nossa "diretoria", sábia como a maioria dos diretores de clube no Brasil, aqueles mesmos que aceitam uma final de campeonato na Fonte Nova, largaram o clube às moscas para encherem seus bolsos com o patrimônio de 30 milhões de corinthianos. 30 milhões! A gente fica daqui deste lado do Atlântico admirando o Barcelona, a história de nunca ter patrocínio no manto sagrado, de viver do torcedor e que tais, e esquecemos que o mundo não é feito só de palmas, e que essas palmas não vão copiar um modelo vencedor e, acima de tudo, de uma probidade ímpar, porque o amor da torcida é quem comanda o clube. O dinheiro estampado na camisa do Barcelona é o rosto de cada torcedor que lota o Camp Nou, que compra sua amada camisa na loja do Barcelona, que adquire ingressos para um campeonato inteiro e não precisa ficar sujeito a ver um cambista comprando dez, quinze, sei lá quanto ingressos em cinco minutos enquanto ele, o pobre torcedor, passou duas horas no sol para conseguir a muito custo comprar um só.

Está difícil até dar uma lógica para esse texto. Hoje eu acordei pior do que ontem. Ainda com esperança, como sempre, mas um pouco reduzida, machucada, àquela esperança que temos pelas coisas que amamos e que queremos bem. Eu sei que o Corinthians não acaba hoje, nem no ano que vem contra o Vila Nova. Sei que o Corinthians nunca vai acabar, e que eu poderei sempre contar histórias que eu vi, como o título Brasileiro de 1990, onde eu realmente descobri que ser corinthiano era algo que transcendia qualquer coisas que eu já tinha visto antes e que já vi até hoje. E contar histórias que não vi, como a invasão corinthiana de 76 ou o título paulista de 77. Mas o que fizeram com o Corinthians desde 1910 para cá é algo que não se faz com o pior dos inimigos. Talvez isso seja a graça do futebol, que da desordem venha a nascer um amor incondicional que faz com que relevemos algumas coisas, que dê essa aura romântica de ver no caos brotar algo tão lindo quanto a relação que os corinthianos têm com o clube do coração. Mas uma hora isso acaba por nos cansar, e os resultados que o descaso produz estão aí, para que os corinthianos vejam e para que os outros torcedores tripudiem. Essa é a lógica do nosso esporte bretão, aquele que costumava ter o Corinthians figurando entre os primeiros, tal qual diz nosso hino.

A queda de ontem foi pior porque ninguém ligou para o Corinthians. Ninguém se preocupou com o torcedor, ninguém enfiou a bola embaixo do braço como fazia o Neto, meu primeiro grande ídolo no futebol, e chamou o controle da situação para si. Lembro que ficava maravilhado de ser aquele jogador gordinho e fumante pegar a bola, ajeitar ela e mandar para o fundo das redes. E olha que o Jacenir era ruim pra diabo. Na queda de ontem, tirando poucos como Felipe (um monstro que poderia fazer história no Timão se não tivessemos o metódo Colônia-Metrópole no comércio de jogadores de futebol) e Betão (limitado mas corinthianíssimo), não deu para ver o sofrimento da derrota naqueles jogadores. Porque o time entrou todo apático e, obviamente, sentiria com apatia o baque de perder a pior partida da história do Timão.

A queda de ontem foi pior porque nossa antiga diretoria é grotesca, amadora, incompetente e a nova ainda tem muito serviço para mostrar.

Ontem eu vi até uma flamenguista sofrendo pelo Timão. Vi que, apesar da chance ímpar de se tirar um sarro, o futebol do país chorou como um todo enquanto nós choravámos por todos. Foi duro, foi triste, mas bola para frente. Vamos rumo a um título inédito e a uma identificação maior ainda do torcedor corinthiano com o clube. Porque somos um bando de loucos, loucos por ti Corinthians.