segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Terapia ou Fale mais sobre esse texto na caixa de comentários

- Estar nessa sala, agora, demonstra todo o meu fracasso...
- Fale por quê?
- Porque eu pago uma fortuna por apenas uma hora disso. Você é como uma puta, mas aquelas putas muito caras as quais poucos têm acesso.
- Fale mais sobre sua mãe.
- Aí, olha só, te pago uma fortuna para você fazer correlações entre minha mãe a putaria. Você sabia que eu sou fruto de uma suruba?
- Fale mais sobre essa suruba.
- Não posso, estava em uma posição não muito privilegiada. E cheguei meio atrasado, apesar de dizerem que já era o clímax.
- Fale mais sobre o ano de 1968.
- Então, a suruba foi em 1969. Deve ser, inclusive, um número cabalístico. Sobre 68, nada posso dizer sem a ajuda do Google.
- Fale mais sobre 69.
- Também não posso, sou um fracasso, pago uma fortuna para deitar nessa cadeira de merda quando poderia gastar esse dinheiro com putas e muito mais saber sobre 69.
- Fale mais sobre o seu fracasso.
- Fale mais porque você começa todas as suas questões com "fale". Porra, isso enche o saco!
- Fale mais sobre esse problema com o "fale", que denota alguma psique fálica, dada a semelhança entre as duas palavras. Fale se você tem disfunções sexuais.
- Aí, lá vem de novo. É mãe, disfunção sexual. Vocês terapeutas acham que só porque deitamos para ser atendidos já pensamos em sexo. Pelo menos eu escolheria um divã king size e não essa merda de molas soltas.
- Fale mais sobre esse problema do divã.
- Não posso agora, ainda não estou preparado, na próxima semana eu explico.
- Fale mais sobre a próxima semana.
- Chega dessa merda. Vou comprar uma arma e, se não continuar fracassando como sempre, vou enfiar uma bala na cabeça. Adeus!
- Fale mais sobre essa arma.

A porta bateu, com força. O doutor pegou o telefone, discou para a secretária.

- Fale para o próximo entrar, por favor.
- Mas senhor, o próximo paciente é mudo.
- Fale mais sobre a conversa que teve com ele.
- Er, nenhuma.
- Hum, interessante. Fale para ele entrar, e cobre o dobro, pois preciso que ele fale.

A secretária desliga e põe-se pensativa.

- Pobre doutor. O que seria dele se não fizesse terapia?