quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Pequenos inventos, grandes filhos duma grande santa

O cara que teve a brilhante idéia de colocar letreiros eletrônicos nos ônibus de Sampa, além de ter a mãe na zona, nunca sequer pisou em um coletivo em toda a sua vida. Tá, esse texto é, de certa forma, um meio de justificar uma burrice minha. Mas não deixa de ser fato que a mãe do gênio do letreiro confunde criado mudo com caixa eletrônico.

Pois bem, esta anta que vos escreve acordou para trabalhar, como o faz todos os dias. Certo é que eu começo a ter noção da realidade às dez horas da manhã, quando o espírito resolve acompanhar o corpo em mais um dia de labuta. Antes disso, sou tal e qual os zumbis dos filmes do George Romero. Enfim, acorda, toma banho, escova os dentes, toma um café requentado, vê um pedaço do jornal, sai de casa, acende um cigarro e vai para o ponto de ônibus na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, quase que já na Marginal Tietê. Na altura do número 1700 há uma curva, de onde o coletivo, naqueles dias em que o santo protetor do trânsito dá uma esticada no sono, vêm rompendo a barreira do som. Tony Stark ficaria muito para trás. E esse ônibus vêm com o maldito letreito eletrônico, que fornece importantes informações, a saber:

"BOM DIA" - Só se for para o maldito motorista.
"BOA VIAGEM" - O quê, ele vai tombar? Eu vou morrer e poder dormir para todo o sempre?
"O DIA ESTÁ NUBLADO" - Igual ao que fazíamos nos cadernos da escola lá no primário, que bonito.
"AHMADINEJAD DIZ QUE A BOMBA É DA PAZ" - Vai cair aqui nas redondezas? Vou poder dormir para sempre?
"VENDE-SE FUSCA 68 - BOM ESTADO" - Opa! Tem piloto automático?
"TERMINAL LAPA" - Caraleo, meu ônibus.

Então lá vai o sonâmbulo dar sinal, subir, dar bom dia para o motorista, bom dia para o cobrador (afinal de contas ele acorda azedo porém educado) e notar, por um milésimo de segundo, que ele seguiu à esquerda ao invés de entrar na Marginal à direita.

- Porra? Não é o Terminal?
- Não, é o Barra Funda, ele passa no Terminal.

Seria tudo lindo, se não fosse pelo fato de que, em dias normais em que o ônibus Ivo Holanda não resolve me fazer participar do Topa tudo para se foder no trabalho, eu desço pelo menos uns 37 pontos antes do Terminal Lapa. Tempo suficiente para a mãe do cara que inventou o letreiro do ônibus faturar, vejamos, cem paus a trepada, raiz quadrada de doze vezes do delta T mais a soma dos catetos da hipotenuza. Quinhentos reais, valor aproximado. Porque a mãe do desgraçado deve ser usurária e cobrar juros do picote. Isso sem contar a porra da CPMF, é claro.

Tomar no cu, custava ficar meia hora no ponto de ônibus para perceber que essa desgraça desse letreiro, por mais bonito que seja, não tem função nenhuma. Porra, é o mesmo que ter só a cabeça da Jessica Biel em casa. Puta merda, quem foi a anta que teve essa idéia?!